Conheça “Quem Ama Não Mata”, minissérie que originou “Felizes Para Sempre?”
Para escrever “Felizes Para Sempre?”, o autor, Euclydes Marinho, inspirou-se em outra minissérie sua, “Quem Ama Não Mata”, de 1982. A nova só não é um remake da antiga porque as semelhanças param na presença dos cinco casais da história. Os personagens e dramas conjugais são outros, assim como a abordagem da atual, naturalmente mais moderna e condizente com a sociedade de hoje.
“Quem Ama Não Mata” foi exibida em 20 capítulos, entre julho e agosto de 1982. Foi a terceira “minissérie” da Globo, um projeto que havia se iniciado naquele ano – foi antecedida por “Lampião e Maria Bonita” e “Avenida Paulista”.
Concebida em conjunto pelo autor e o diretor Daniel Filho, a proposta era mostrar vários níveis de relacionamentos conjugais a partir de cinco casais diferentes, de uma mesma família, aparentemente felizes. Euclydes e Daniel usaram referências autobiográficas. Como o casal Chico (Daniel Dantas) e Júlia (Denise Dumont), que se separa porque ela quer conhecer outros homens, enquanto ele não tem estrutura emocional para lidar com a situação. Isso aconteceu com Euclydes, em um casamento seu com uma atriz.
Os casais
Enquanto Jorge (Claudio Marzo) e Alice (Marília Pêra) não tinham diálogo (a rotina e os sentimentos não expressados verbalmente vão minando a relação), o casal jovem Chico (Daniel Dantas) e Júlia (Denise Dumont) – ela, sobrinha de Alice – tinha uma relação baseada no diálogo e na sinceridade, tanto que, apesar de se amarem, eles se separam por um tempo para que Júlia possa se relacionar com outros parceiros. Já Laura (Susana Vieira) – mãe de Júlia, irmã de Alice – estava em crise em seu terceiro casamento pois primava pela independência, queria uma relação sem união formal e morando longe do marido, Raul (Paulo Villaça), que achava que só o casamento tradicional poderia mantê-los juntos.
Fonseca (Hugo Carvana) e Odete (Tânia Scher) – vizinhos e melhores amigos de Jorge e Alice – viviam entre tapas e beijos, com muitas discussões, porque ele era ciumento e ela, muito despachada. Mas, no fundo, não conseguiam ficar longe um do outro. E, finalmente, o casal de terceira idade, o militar reformado General Flores (Dionísio Azevedo) e Dona Carmem (Norma Geraldy) – pais de Alice e Laura, avós de Júlia – viviam um casamento de mais de quarenta anos, no modelo antigo.
Ao final, a proposta era mostrar que nenhum modelo de casamento é o ideal para todos. O título “Quem Ama Não Mata” era uma alusão às pichações que apareceram nos muros de Belo Horizonte no início da década de 1980, por conta do julgamento do playboy Doca Street, acusado de ter matado a mulher, Ângela Diniz, num crime que mobilizou a opinião pública brasileira na época. Claro que havia um crime passional na história da minissérie.
No primeiro capítulo, ocorre uma discussão entre Jorge e Alice, seguida de um tiro. Fica claro ao telespectador que um dos dois morreu, mas o mistério permanece até o último capítulo, enquanto a trama se desenrola mostrando os antecedentes do crime. Dois finais foram gravados: um com Jorge matando Alice, e outro com Alice matando Jorge. Somente na noite em que foi ao ar o último capítulo, é que Daniel Filho decidiu qual dos dois desfechos apresentar. O escolhido foi aquele em que Jorge assassina Alice. O outro final foi exibido no domingo seguinte, depois do “Fantástico”.
Os casais de “Felizes Para Sempre?” vivem em Brasília, o que leva a uma abordagem política. “Quem Ama Não Mata” se passava no Rio de Janeiro e limitava-se aos dramas familiares. “Felizes Para Sempre?” tem muitas cenas de sexo e aborda a homossexualidade e a prostituição, tabus em 1982, portanto não tratados em “Quem Ama Não Mata”. Logo, a personagem de Paolla Oliveira, a prostituta Danny Bond, que tem uma relação com Daniela (Martha Nowill), não existia na produção dos anos 80.
Mas, Euclydes Marinho homenageia sua antiga minissérie na nova: os nomes de vários personagens de “Felizes Para Sempre?” são nomes dos atores que viveram os tipos correspondentes em “Quem Ama Não Mata”. Veja o álbum.
Por Nilson Xavier - UOL
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