Saiba como o mercado publicitário vê a nova fase da Xuxa

“Pelo jeito, acho que quem vai chegar é o Barack Obama”, brincou um colega jornalista ao chegar à sede da Record, em São Paulo, e notar toda a movimentação de seguranças, fãs e da imprensa para a primeira aparição de Xuxa em sua nova emissora.

Coletivas com celebridades geralmente são bem movimentadas e, em alguns casos, geram até tumulto. Mas o que se viu nessa quinta-feira, 5, na Barra Funda, é algo que foge da normalidade para qualquer evento jornalístico. Os gritos dos fãs no estúdio, as pessoas aglomeradas na porta da emissora, a tensão da produção da Record que cuidava dos detalhes do evento e as duas horas de espera pelo início da apresentação trouxeram a impressão de que a pessoa que entraria por aquele tapete vermelho não era um ser humano comum. E talvez, realmente não seja.

Xuxa é, provavelmente, o maior símbolo da era pré-digital da mídia brasileira. A construção de sua trajetória de sucesso como apresentadora infantil se deu por um conjunto de fatores que – sem desmerecer, obviamente, seu carisma, beleza e talento para angariar milhares de fãs apaixonados – só foram possíveis pela conjuntura da sociedade e da mídia brasileira da década de 80.

Enquanto você, jovem nascido na década de 90, sempre teve autonomia para selecionar seu entretenimento e até sofreu com a angústia de ter tantos canais, filmes, séries, documentários, jogos e conteúdo ao alcance de seus dedos, os quase-não-tão-mais-jovens da geração nascida nos anos 70 e 80 eram obrigados a se contentar com aquilo que a TV oferecia. A intenção não é discutir se isso é melhor ou pior. Apenas contextualizar que, quando ainda não havia o YouTube para as 56.984 repetições dos clipes da Galinha Pintadinha, era com programas como o da Xuxa que os pais conseguiam minutos de sossego e paz em casa. Assim como era com a trilha sonora das Olimpíadas do Faustão que muitas famílias compartilhavam os acontecimentos da semana nas tardes de domingo.


Fãs cercam Xuxa em sua chegada aos estúdios da Record

Claro, sempre teve quem detestasse, quem preferisse qualquer outra coisa. Mas aquilo era o entretenimento padrão das massas. E, por alguma razão que não faço ideia de qual seja, o passar do tempo não consegue apagar isso do subconsciente.

Muitos dos fãs que receberam a Xuxa com gritos de “maravilhosa”, “rainha” e brados de “Chupa, Rede Globo!” nos estúdios da Record ontem já eram bem crescidos quando a loira iniciou sua carreira na Globo. Certamente, eles têm acesso à internet, possuem TV paga, vão ao cinema e devem ter uma assinatura do Netflix para saber que a Xuxa é só um pontinho num universo gigante de entretenimento. Mas eles ainda a idolatram e a colocam acima de todas as outras opções do controle remoto. Por quê? Porque, por alguma razão, a figura de Xuxa deve resgatar a memória afetiva de algo bom. Ou relembrar a hipotética segurança de um tempo em que se divertir não demandava ter de fazer tantas escolhas. Era sentar no sofá e pronto.

Conversei com alguns profissionais de agência nesta semana para falar sobre o papel que a Xuxa ainda representa para a audiência e para o mercado publicitário (a matéria estará disponível na edição 1650 de Meio & Mensagem, com data de 9 de março) e todos ressaltaram que a TV brasileira é carente de novos ídolos. Talvez, a agilidade dos cliques tornou mais difícil a missão de eleger alguém que mereça frequentar fielmente nossa sala de estar.

Pensando por esse viés, não é difícil compreender o alvoroço causado por Xuxa. Ela representa o conhecido, o familiar, tanto para quem adora acompanhar como para quem precisa de argumentos sólidos para criticar. Ela fornece material para todos esses públicos.

Antes de encerrar a entrevista coletiva, Xuxa escolheu um rapaz de seu fã-clube para passar uma mensagem a ela. O jovem disse que, com todo o respeito à Record, eles estavam ali somente por ela e a seguiriam por onde ela fosse. Ela sorriu, emocionada, enquanto os demais fãs quase colocaram o estúdio abaixo em concordância com a afirmação do rapaz. Achei graça pelo fanatismo exagerado. Mas, em seguida, lembrei de outra afirmação que ouvi dos profissionais de agência nesta semana: “algumas pessoas são maiores do que a mídia”. Xuxa deve ser um desses casos. Deus fez dela estrela. E ela soube brilhar.


Fãs, que viajaram de ônibus do Rio de Janeiro a São Paulo, esperavam por Xuxa no estúdio da Record

meioemensagem

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