Ao virar drama, "Os Dez Mandamentos" faz sucesso


Maior sucesso da Record em muitos anos, a novela "Os Dez Mandamentos" ajuda a entender, ao menos em parte, os humores do público da TV aberta no Brasil.
A ousada decisão de transformar uma história bíblica num folhetim com mais de cem capítulos obrigou a autora do texto a fazer uma série de malabarismos. Dando muita corda à imaginação, Vivian de Oliveira criou personagens, inventou histórias e desenvolveu tramas com a maior sem-cerimônia.
 
Ainda que tenha optado por nomes difíceis e, muitas vezes impronunciáveis para vários personagens (Bakenmut, Bezalel, Eliseba, Henutmire, Joquebede etc.), a autora tem escrito diálogos com uma linguagem bem coloquial, semelhantes aos de tramas contemporâneas.
 
"Mulher gosta de homem com atitude", filosofou um guarda no capítulo de quarta-feira (29). Ao ver a rainha Tuya passar, acrescentou: "Bem que eu pegava". No mesmo episódio, o sacerdote Paser tentou convencer a mulher, a vilã Yunet, a fazer sexo oferecendo "um pozinho azul maravilhoso" a ela.
 
Mais que isso, a novela está apostando em conflitos capazes de seduzir o público interessado em dramas juvenis e água com açúcar –um "capa e espada" bíblico.
Chegando ao 30º capítulo, a trama está estacionada no início da vida adulta de Moisés, criado como um príncipe pela corte egípcia. O principal conflito até o momento é o triângulo amoroso formado pelo protagonista com Nefertari, filha de uma dama de companhia, e Ramsés, filho do faraó.
 
"Vê se cresce, Ramsés. E tire da cabeça que vou ser sua rainha porque não vou ser", disse Nefertari no capítulo de terça-feira (28), abrindo espaço para Moisés se declarar algumas cenas depois.
 
Escalada para as 20h30, a trama bíblica compete diretamente com o "Jornal Nacional", da Globo, o folhetim infantil "Chiquititas", do SBT, e a novela turca (com cara de mexicana) "Mil e Uma Noites", exibida em versão dublada pela Band.
 
É sintomático que, puxado pelo sucesso de "Os Dez Mandamentos", a audiência somada dessas três novelas frequentemente seja igual ou superior ao do jornalístico da Globo.

Mauricio Stycer
Folha de S. Paulo
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